Reflexão inicial
Recentemente, estive navegando pelo site do órgão público americano responsável por agricultura, pecuária e agronegócio. Procurava conhecer como a administração pública americana orientava seus agricultores e pecuaristas com relação a negócios e financiamento.
Cheguei num formulário que procurava descrever o plano de negócio que seria implementado pelo empreendedor contendo informações diversas, tais como tipo de cultura, produção por área, preços, insumos adquiridos, tributos, despesas etc. Ou seja, era um plano de negócios relativamente completo e tinha de ser preenchido pelo mias simples trabalhador da economia.
Analisei o formulário e fiquei refletindo. Um dos pensamentos que me veio à mente foi: “Duvido que o agricultor ou pecuarista médio brasileiro saiba de metade dessas informações.” O fato de não saberem não significa, de modo algum, que o conhecimento não seja importante. Acho que significa que cometemos, ainda, muitos erros com relação à agricultura, mesmo sendo uma potência agrícola.
Outro pensamento que me veio à mente foi: “Duvido que o músico médio saiba disso também.” Do tipo de conversa que ouço de músicos, continuo duvidando. Talvez, fosse muito útil desenvolver uma ferramenta dessa natureza para conquistar novos clientes e dar cursos. Porém, isso ficará para um próximo post.
Um pouco de história
Porém, da reflexão dos campos presentes no formulário, permaneceu uma diferença que nunca vi músico algum mencionar: a diferença entre capital e trabalho.
Vejo comumente os músicos se posicionarem à esquerda, quando o assunto é política. Muitos falam sobre indústria cultural, embora eu sinceramente duvide que algum tenha lido Adorno. Muitos falam sobre a música ser comercial, embora poucos me respondam sobre como não ser um produto cultural. Com esse background, deveria ser familiar para eles a noção de capital. Entretanto, poucos saberiam me falar sobre a equação do valor do dinheiro no tempo. Poucos, para não falar nenhum.
O fato é que o que denominamos capitalismo se iniciou comercial. A ideia era criar uma remuneração pelo capital investido superior às taxas de juros compostos, que caracterizam a usura, através do comércio de produtos provenientes das colônias. Nessa época do capitalismo comercial, os países da península ibérica despontaram como potências navais, embora as cidades-estado de Florença, Veneza e Gênova já estivessem experimentando o mesmo.
Num segundo momento, foi descoberto um mecanismo de gerar essas remunerações por juros compostoa através da indústria. Foi a época do capitalismo industrial, quando a Inglaterra despontou como potência. Esse foi o império em que o Sol nunca se punha.
Ao iniciar o século XX, uma nova espécie de capitalismo se desenvolve. Trata-se do capitalismo financeiro, que já pode ser notado antes da I Guerra Mundial, mas desenvolve-se plenamente no final do século XX. É uma forma de capitalismo em que a intermediação entre a poupança e o investimento dos recursos financeiros se torna dominante.
Essa financeirização das atividades se torna dominante e, no mercado musical, isso não é diferente. É essa mentalidade financista que norteia os investimentos em talentos, em gêneros, selos musicais, artistas etc. Ou seja, é absolutamente relevante que o músico conheça isso e saiba incorporar no seu planejamento.
O trabalho e a financeirização
Na música, o trabalho refere-se à composição, ao arranjo, à execução de um peça e à gravação. Estas são todas formas de trabalhos musicais. A financeirização do trabalho musical começa a ocorrer quando o músico se torna artista, quando a música se torna fonograma e, até mesmo, quando o músico fecha turnês inteiras. Nesse último caso, a lógica é do resultado financeiro de investimentos prévios e o resultado deve ser superior ao custo de oportunidade. Em outras palavras, se o músico não consegue financeirizar seu trabalho, então ele não será objeto de interesse do mercado ou indústria musical.